Recentemente
foi lançada no Brasil a Bíblia de estudo do Dr. Augusto Cury pela editora Abba
Press. Possuo muitas Bíblias de estudo e no momento estou lendo a Bíblia de
Matthew Henry. Sinceramente ainda não decidi se comprarei a Bíblia de Augusto
Cury. Posso imaginar pelos seus livros escritos o conteúdo registrado na Bíblia
Freemind – Mentes Livres. Nela está inserida 200 páginas de sua tese de dourado
para auxílio do leitor. Acredito que a intenção de Augusto Cury é proporcionar
ao leitor uma mente livre não pelo conteúdo bíblico em si, mas pelas técnicas
da psicanálise defendidas por ele. Muitos não sabem mas Augusto Cury é um ex-ateu
e é hoje um autor conhecido e reconhecido mundialmente por seus livros nas
áreas da psicologia, psicanálise e educação. É tão lido entre evangélicos que
alguns acham até que ele pertence a alguma denominação protestante. Na verdade
Augusto Cury é sem religião. Como ele mesmo já disse: “Acho belo as pessoas que tem uma religião, que defendem o que creem
com respeito e que são capazes de expor e não impor suas ideias. Quanto a mim,
não tenho nem defendo uma religião. Minhas pesquisas sobre Jesus Cristo me
levaram a ser um cristão sem fronteiras.”[1] Augusto Cury não esclarece bem
o que significa ser um “cristão sem fronteira”, mas ele explica que quando as
pessoas queriam saber o rótulo ou a bandeira religiosa de Jesus, o mestre
respondia “Eu sou o filho do homem”, frase que Augusto Cury interpreta como um
servo da humanidade. Parece então que segundo Augusto Cury para amar e servir
as pessoas não se deve estar ligado necessariamente a uma religião. Esse seu
conceito e postura facilita a vendagem e circulação de suas obras, pois em sua
abordagem psicológica de Jesus dificilmente desagradará a cristãos, judeus ou mesmo
os islâmicos. Os primeiros creem na encarnação, divindade, morte, ressurreição
e ascensão de Jesus; o segundo grupo acredita na sua existência e crucificação,
mas que ele não era o filho de Deus; e os islâmicos acreditam num Jesus profeta
que não foi crucificado. E claro, judeus e islâmicos descreem da divindade de
Cristo. Em seus escritos Augusto Cury não enfatiza esses aspectos, já que sua
interpretação psicológica dos textos bíblicos, constituem mais aplicações
individuais equivocadas, fruto de uma exegese tendenciosa e psicanalítica da
Bíblia. Em O Mestre da Sensibilidade, por exemplo, após Augusto Cury mencionar
a expulsão dos vendilhões do templo, ele conclui que “Precisamos aprender com o mestre de Nazaré a fazer uma “faxina” no
templo de nosso interior. Virar a “mesa” dos pensamentos negativos. Extirpar o
“comércio” do medo e da insegurança. Reciclar nossa rigidez e rever o
superficialismo com que reagimos aos eventos da vida.”[2] Apesar de Augusto
Cury falar de “faxina” da alma, jamais fala sobre o novo nascimento. Também não
defini o conceito de pecado segundo a Bíblia, pois assim como não explica a
limpeza interior segundo Jesus não poderá falar da sujeira do coração segundo a
escritura. Para Augusto Cury o problema fundamental do homem não é o pecado e,
sim, “a debilidade física do corpo e a
incapacidade de gerenciar pensamentos e emoções.”[3] Dessa forma tanto o ensino quanto a pessoa de Cristo não são apresentados
nas obras de Augusto Cury conforme o texto canônico. E assim ao invés de um
retrato fiel de Cristo e seu ensino o que teremos é a caricatura de um
evangelho da autoestima que exalta o homem e não a Deus. A regra de que a
escritura interpreta a escritura não é levada em conta por Augusto Cury e, sim,
uma interpretação da Bíblia à luz da psicanálise. Num exemplo, ao interpretar
João 17.26 ele diz que “A análise
psicológica dessas breves palavras tem grandes implicações que se contrapõe a
conceitos triviais.”[4] Augusto Cury enfatiza o livre-arbítrio do homem e
solapa a soberania de Deus. Apesar de fazer referências a um projeto de Deus, o
faz como sendo um sonho divino que a qualquer momento pode ser interrompido
pelo homem. Em outras palavras seria um projeto que pode ser frustrado pelo ser
humano o que contradiz frontalmente a Bíblia (Jó 42.2). No livro Os Segredos do
Pai-Nosso, ele conclui com a terrível frase “Deus e o ser humano são dois seres solitários que vivem no teatro da
existência procurando ansiosamente um ao outro no pequeno parêntese do
tempo...”[5] Em outro livro, Mestre da Vida, Augusto Cury chega ao ponto de
frisar que “Apesar de saber todas as
coisas, Deus não intervém na humanidade da forma como gostaríamos e como ele
desejaria intervir. Caso contrário, passaria por cima do seus próprios
princípios. Transgrediria a liberdade que dá aos seres humanos de seguirem seu
destino na pequena bolha do tempo.” [6] Significa que para Augusto Cury
existe uma busca ansiosa entre Deus e o homem a fim de ambos se encontrarem e
resolverem o problema da solidão e que no final das contas a liberdade humana é
quem determina o exercício da soberania divina.
Porém
agora com o lançamento da Bíblia Freemind – Mentes Livres, de Augusto Cury, a
preocupação tonar-se maior pela influência que exercerá entre os cristãos
protestantes e o uso dessa Bíblia nos púlpitos das igrejas. Numa época onde o
púlpito evangélico tornou-se um centro irradiador de pregações antropocêntricas
centralizadas no ego sob o confuso termo de autoestima, a tendência é o aumento
da confusão sobre o amor próprio tão propalado nos dias atuais. O próprio
Augusto Cury é o fundador do PAIQ – Programa da Academia de Inteligência de
Qualidade de Vida que tem doze capítulos com doze leis de qualidade de vida.
Qualquer semelhança com o G12 por causa do número 12 é mera coincidência, se
bem que o material pode ser utilizado pelos gedozistas já que não se preocupam
com doutrina bíblica. O programa pretende plantar no coração das pessoas “a sementes de “ser autor da própria história”, de “contemplar o belo para expandir o
prazer de viver”, de “gerenciar os pensamentos”, da “arte do diálogo”, da
“proteção da memória” dentre outras.” [7] O programa enfatiza a mesa
redonda do “Eu” para um constante diálogo consigo mesmo, sem referir-se jamais
a natureza pecaminosa do homem, a necessidade de nascer de novo e o processo de
santificação e consequentemente a formação do fruto do Espírito Santo no homem.
Para Augusto Cury os recursos para resolver os problemas interiores do ser
humano estão dentro do próprio homem e não fora dele mesmo e por isso nunca
precisará clamar por um libertador.
Certa
vez o inglês Loyd Jones, médico e depois pregador na Capela de Westminster
afirmou que “todo o problema da vida é,
em última análise a preocupação com o ego”. [8] Jesus, resumiu toda a lei
em dois mandamentos: O primeiro, amar a Deus com todo o entendimento, alma e
coração; e o segundo, amar o próximo como a si mesmo. Nos tempos modernos, por
influência da psicologia, que orgulhosa e literalmente defini-se como a ciência
que estuda a psiquê, ou seja, a alma humana, acrescentou-se um terceiro
mandamento: O AMOR A SI PRÓPRIO. Digo orgulhosa porque uma ciência que estuda
não o cérebro que é algo físico, mas a mente (alma) que é algo não físico, é
certamente prepotente. Imagine você uma ciência estudar o invisível e ainda
assim ser considerada ciência, é algo tão incrível que só podemos comparar a
uma mágica que deu ao mundo um presente semelhante ao Cavalo de Tróia da antiga
Grécia. Porém com seus postulados altamente questionáveis a psicologia diz que só
podemos amar alguém se primeiro amarmos a nós mesmos e reconhecermos nosso
valor pessoal. O mais terrível é que na época atual caracterizada pelo ódio,
violência, desrespeito e autoritarismo o nosso maior problema não é que nos
amamos pouco, ao contrário, nos amamos bem demais. Tanto a minha como a sua
maior dificuldade não é em amar-se, mas em amar a Deus, nosso criador e amar o
próximo, nosso semelhante. Nem eu, nem você e nem ninguém tem problemas de amor
próprio, e por isso Jesus disse que deveríamos amar o próximo como a nós mesmos,
pois ele partiu do princípio que o amor a si já é latente no ser humano. Não
são três mandamentos do tipo: AMOR A DEUS, AMOR AO PRÓXIMO E AMOR A SI PRÓPRIO
e, sim, apenas dois: AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO, onde o segundo depende do
primeiro. Ensinar que o ser humano precisa aprender a amar a si primeiro para
depois amar o seu próximo é o mesmo que querer apagar um grande incêndio usando
uma mangueira ligada no posto de gasolina. O homem é imagem e semelhança de
Deus e tal expressão nos lembra um espelho. O interessante é que um espelho
reflete sempre uma imagem que não é sua. Algum problema na imagem refletida não
é uma questão de auto-ajuste do espelho, mas sua posição errada com a realidade
que reflete. Igualmente nós refletimos uma dignidade que não é nossa, a
recebemos na criação e por isso, quando refletimos mal trata-se de erro de
relacionamento criatura-Criador e não de auto-imagem. Ora, o erro colossal da
psicologia secular da autoestima é este: Ninguém odeia a si mesmo, pois caso
fosse verdade as críticas feitas a alguém seriam recebidas com alegria e não com
zanga ou tristeza. Na verdade as pessoas odeiam as circunstâncias e situações
da vida e não a si mesmas. Mesmo o pior assassino se considera uma pessoa boa e
amante de si. Até um suicida, cometeu tal ato por amor próprio, por dominar-se
pelo próprio ego e não por falta de amor a si mesmo.
Como disse o psicólogo
David G. Meyers: “As pessoas costumam
atribuir a si mesmas os comportamentos positivos e a fatores externos os
comportamentos negativos, permitindo-se receber o crédito por suas boas ações e
negar a responsabilidade pelas más.”[9] Como prova disso dificilmente você
encontra alguém que rejeita o elogio pelo sucesso ou aceita a culpa pelo
fracasso. Não, a tendência é o contrário. A egolatria portanto, é o nosso
grande problema e não a ausência de amor próprio. Afinal de contas ninguém
chega para o seu espelho mágico e diz: “Espelho, espelho meu quem é mais feio
do eu”? Chegamos ao nosso espelho e perguntamos quem é mais belo, mais
inteligente ou mais bem sucedido. Desde que o mal entrou no gênero humano
sempre existiram pessoas egocêntricas e orgulhosas, mas a atual geração se
caracteriza por intelectualizar o orgulho sob outros nomes como autoestima,
amor próprio, autoimagem, aceitação de si, perdão a si mesmo, complexo de
inferioridade e outros. O orgulho tem hoje grande influência da psicologia e de
seus psicólogos-sacerdotes como Freud, Jung e Carl Roger. Freud lutou durante
parte de sua vida contra a depressão e chegou a usar cocaína por anos a fim de
aliviar suas dores psicológicas. [10] Jung falava com espíritos e relata até
“viagens” com os mortos e tinha um espírito-guia chamado Filemon [11]. E de
Carl Roger, um psicólogo humanista norte-americano que enfatizou a autoestima,
temos um exemplo triste do mal que a autoestima pode fazer. Ao responder porque
não dera atenção necessária a sua esposa, nos últimos meses de sua doença
terminal, ele simplesmente disse “que era
necessário para minha sobrevivência que eu vivesse a minha vida, e que isso
deveria vir em primeiro lugar, apesar de Helen estar tão doente”. [12] Ainda
lembro-me como ficou o rosto da professora de psicologia na faculdade quando
citei esse episódio rogeriano, mas uma colega de sala, concordou com a atitude
de Roger e acrescentou que cada pessoa deve ser íntegra consigo mesma. Sem
querer ela mostrou para a turma que a autoestima é apenas outro sinônimo
elegante para orgulho. A filosofia da autoestima produziu e continuará
produzindo pessoas assim, orgulhosas de si, íntegras com seu próprio ego e o
que é pior, elas terão orgulho de serem orgulhosas. Não é sem propósito que o
apóstolo Paulo ao citar as terríveis características do final dos tempos em 2º
Timóteo 3, ele começa dizendo que “os homens serão amantes de si mesmos”.
BIBLIOGRAFIA
[1] CURY, Augusto. Nunca desista de seus sonhos. 1ª. ed.
Rio de Janeiro: Sextante, 2004. p 132
[2] CURY, Augusto. O Mestre da Sensibilidade. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Sextante, 2006. p 84
[3] CURY, Augusto. O Mestre da Vida. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2006. p 144
[4] CURY, Augusto. O Mestre da Sensibilidade. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Sextante, 2006. p 79
[5] CURY, Augusto. Os Segredos do Pai-Nosso. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2006. p 141
[6] CURY, Augusto. O Mestre da Vida. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Sextante, 2006. p 144
[7] CURY, Augusto. 12 Semanas para mudar uma vida. 1ª ed.
São Paulo: Academia, 2007. p 14
[8] HUNT, Dave.
Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia
Noite, 1995 p.164
[9] HUNT, Dave.
Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite,
1995 p.169
[10] NICHOLI, Armando
M. Deus em Questão C. S. Lewis e Freud. 1ª
ed. Minas Gerais: Ultimato, 2005. p 78
[11] HUNT, Dave.
Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia
Noite, 1995 p.227
[12] HUNT, Dave.
Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia
Noite, 1995 p.165
Muito bom texto !
ResponderExcluirOro todos os dias por uma metanóia(novo nascimento), primeiro fui instruído que isto aconteceria uma unica vez, hoje percebo que a todo momento preciso pulir o espelho... Felizmente quem faz isto é ELE... Glória a Deus.
ResponderExcluirMuito bom. Tem alguma observação sobre os livros mais recentes de Augusto Cury? Os livros citados são de 2006 mas, salvo engano, ele deixou de ser ateu em 2012.
ResponderExcluirNão vc está equivocado, pois existem matérias anteriores q já o tratava como ex ateu, eu li um de 2009
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