terça-feira, 6 de maio de 2014

COMO O FINITO (CRIATURA) PODE CONHECER O INFINITO (CRIADOR)?

Por Gildo Gomes



Deus é de cima e nós cá de baixo. Ele é infinito e nós somos finitos. E para complicar ainda mais, Ele é tremendamente santo e nós somos terrivelmente pecadores. Não é questão de distância espacial entre nós e Deus, e, sim, uma distância de natureza moral. Então como podemos conhecer aquele que está infinitamente além de nós?, ou seja, como o finito(homem) pode conhecer o infinito(Deus)? Herbert Spencer, um agnóstico, observou certa vez que nunca se viu um pássaro voar para fora do espaço. Com isso ele concluiu por analogia que é impossível o finito penetrar o infinito[1]. A observação de Spencer estava certa, mas sua conclusão esquecia de uma outra possibilidade: que o infinito pode penetrar o finito. E a Bíblia e a história mostra justamente isso: Que o Deus santo, poderoso, infinito revelou-se ao homem pecador, impotente e finito.

O livro de Gênesis nos diz logo no início que Deus era quem tomava a iniciativa para comunicar-se com Adão e não o contrário. E se não fosse assim Adão jamais poderia ter qualquer conhecimento do Deus criador. Como disse Jonh Stott: “Quando a mente humana começa a se preocupar com Deus, torna-se perplexa. Tateia na escuridão. Tropeça. Está perdida. Não é de estranhar que assim ocorra, porque Deus, seja quem for ou o que for, é um ser infinito e imortal, enquanto nós somos mortais e finitos. Ele está totalmente fora de nosso alcance. Desse modo nossa mente, que é um instrumento maravilhosamente efetivo em outros setores, não nos pode ajudar de pronto. Não pode subir a infinita mente de Deus. Não há escada. Existe apenas um vasto e imensurável abismo. “Porventura alcançarás os caminhos de Deus?” (Jó 11:7)[2]. Impossível. Esta situação assim permaneceria, se Deus não houvesse tomado a iniciativa de repara-la” [1]. Se o criador não decidisse falar com a criatura como a criatura poderia conhecer a vontade de seu criador? A bíblia diz: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR.” (Is 55:8).
Na mitologia egípcia quando os viajantes não conseguiam decifrar os enigmas da monstruosa Esfinge, eram logo mortos. Caso Deus, um ser infinito não se revelasse a nós humanos seres finitos, então nós estávamos destinados a mesma sorte e destino fatal. Porém, temos da parte de Deus o conhecimento suficiente para não ficarmos no escuro e nem na ignorância espiritual, visto que Ele enviou dos céus a terra tanto sua palavra escrita (a Bíblia) quanto sua palavra encarnada (Jesus Cristo). Porém muitos preferem ficar na indecisão cética de Pilatos que diante de Jesus perguntou: “Que é a verdade”?. Essa indagação tem sido debatida ao longo dos tempos por filósofos e teólogos. E se não houvesse uma fonte de autoridade além de nós e independente de nós, então tanto Pilatos, e os céticos modernos teriam razão em insinuar que não existe verdade e que portanto não haveria uma propósito final para a existência. Mas a verdade existe e o propósito existencial também. Se pelo menos compreendermos que tanto a pessoa histórica de Jesus  como a Bíblia enquanto documento falaram a verdade acerca dos acontecimentos históricos, comuns e sujeitos a investigação (a crucificação por exemplo), então poderemos concluir que Jesus e a Bíblia gozam da mesma credibilidade nos assuntos invisíveis e não sujeitos a investigação, como o perdão de pecados, por exemplo[3].
Deus revelou-se a humanidade para que a mesma conheça sua origem, sua identidade e seu destino. É por isso que Hebreus afirma: “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho,  a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” (Heb 1:1-2).O texto diz que Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras. Podemos presumir pela bíblia que inicialmente Deus(o criador) revelou-se ao homem(criatura) de duas formas básicas: pela criação e pela consciência conforme os capítulos 1 e 2 de Romanos. A bíblia mostra-nos a glória de Deus apresentada na obra da criação. Como diziam os reformadores a criação é teatro de Deus. Em outras palavras a natureza com sua beleza, ordem e magnificência apontam para a grandeza de seu criador.“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Rm 1:19-20).
O Salmo 19:1-6 diz: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite.  Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes  em toda a extensão da terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol,  que é qual noivo que sai do seu tálamo e se alegra como um herói a correr o seu caminho.  A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso, até à outra extremidade deles; e nada se furta ao seu calor.” Ao mesmo tampo em que temos o testemunho externo da criação, temos ainda o testemunho interno da consciência humana. “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os,” (Rm 2:14-15). Em resumo: externamente Deus revela-se através da natureza criada e internamente através da consciência de cada ser humano. Só que com a desobediência do homem (pecado), uma grande tragédia espiritual aconteceu com o gênero humano e o mesmo ficou destituído da glória, era preciso então uma revelação que não levasse em conta o caráter criador de Deus, mas também seu plano redentor. Até porque apesar da beleza da criação e da consciência aprovando ou acusando os atos humanos, era preciso evidenciar o amor, a justiça, a misericórdia e o plano de salvação divino. Toda a Sagrada Escritura escrita pelos profetas e apóstolos e a vinda de Jesus Cristo visava justamente a este propósito.


Referências Bibliográficas

[1] LITTLE. Paul E.  Você Pode Explicar Sua Fé?. 5 ed. São Paulo Editora Mundo Cristão, 1997.
[2] STOTT, John. Cristianismo Básico. 1 ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964. p 10,11
[3] LUTZER, Erwin. 7 Razões para confiar na Bíblia. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 1997. p 57,58

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