domingo, 14 de dezembro de 2014





O 25 de dezembro não têm qualquer relação histórica com o nascimento de Cristo e, sim, com as celebrações pagãs da Saturnália, a adoração do Sol Invicto e o aniversário do imperador Constantino. É por esses motivos que a celebração natalina tem causado controvérsia no âmbito histórico-teológico protestante. Enquanto algumas igrejas evangélicas celebram, outras rejeitam totalmente. Porém nosso objetivo aqui não é o Natal em si, mas a música mais cantada e tocada nessa época e a mensagem “natalina” que transmite. Caso alguém queira aprofundar-se sobre a história do natal à luz da Bíblia recomendo meu artigo "20 Verdades sobre a História do Nascimento de Jesus" (aqui). Certamente você já ouviu e cantou várias vezes a música “Então é Natal” da cantora Simone e ainda não percebeu o conteúdo sincretista e anticristão dessa canção, apesar de parecer o contrário. A música comemora o nascimento da própria cantora que nasceu em 25 de dezembro 1949.
“Então é Natal” é uma música tão tocada no mês de dezembro que já existe até mesmo um movimento na internet de Natal Sem Simone com um selo igual ao Natal Sem Fome. O site orapiulas.com chega até a desejar um feliz natal aos ouvidos de todos sem a música de Simone. O espírito “anti-Simone 25 de dezembro” fez até o presidente do Sindicato dos Comerciários de Teresina, no Piauí entrar na justiça com um pedido de proibição da música de Simone nas lojas da cidade, sob a justificativa de irritabilidade dos funcionários e clientes. Protestos e inquietações à parte, essa não é minha preocupação, pois não faltariam músicas no Brasil para tal campanha. A grande questão é que as pessoas tão eclipsadas com as luzes, cores e imagens de belos presentes do velho Noel não percebem sequer a contradição absurda da música que cantam e admiram. A música “Então é natal” que no início fala da “festa cristã”, termina com o “Hare rama a quem ama”. Simone junta Cristianismo e Hinduísmo como se pudesse homogeneizar água e óleo. Ambas as religiões são mutuamente excludentes entre si, pois numa temos uma divindade cristã e noutra uma divindade pagã; numa o Deus da santidade e em outra o deus da sensualidade e promiscuidade; numa é o personagem histórico, Cristo encarnado; e na outra, um personagem lendário, Krishna reencarnado. A diferença entre a crença na encarnação de Cristo e a crença na reencarnação de Krisna é da altura do Everest, e tentar harmonizá-los é uma contradição do tamanho do Himalaia.
Natal é um tempo de paz, pelo mesmo é o que mais se fala, talvez por causa do texto bíblico do evangelho de Lucas 2.14 que deveria ser lido paralelo ao evangelho de João 14.27. Porém essa paz é de Cristo e não Krishna. A música de Simone lembra Hiroshima e Nagazaki, cidades japonesas arrasadas pela bomba atômica no segundo conflito mundial, em 1945. Cita ainda a menos conhecida Mururoa, que na verdade é o Atol Moruroa, localizado na Polinésia Francesa que entre 1966 a 1996 testes nucleares franceses trouxeram prejuízos incalculáveis para as populações vizinhas. A música é portanto uma mensagem de paz e um basta contra a guerra semelhante ao protesto de John Lennon a guerra do Vietnã na versão original. Mas, Simone vai além e quer transmitir a energia de Krisna para aquele que ama, ou seja, aquele que deseja a paz.
E assim a cantora não apenas copiou o protesto de Lennon ante as guerras, mas acabou por adotar também a mesma visão religiosa hinduístas dos Beatles. Em 1966 os Beatles compraram e ouviram um álbum de adoração hinduísta chamado Consciência de Krisna que fora gravado sob a direção do guru hinduísta, Swami Bhaktivedanta Prabhupada, conhecido posteriormente como Srila Prabhupada, o fundador do Movimento Hare Krisna. “Sua Divina Graça”, como era chamado, ministrava aulas e conferências nas propriedades do próprio Jonh Lennon, na Grã-Bretanha. 
E assim a filosofia oriental hindu entra no ocidente e os Beatles passam a cantar “Hare Krishna, Hare Krishna” e a repetir o mantra: Hare Krishna, Hare Krishna. Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare”. Krisna é o deus hindu do Bahagavad Gita ou apenas Gita,( isso lembra a você outra música e cantor brasileiro?)que é o livro religioso dos hinduístas e Hare que dizer energia do Senhor, ou seja, Hare Krishna é a energia de Krishna.
Hare Rama é apenas um outro título para Hare Krishna e Krishna é um deus panteísta, vulgar, cheio de sensualidade e imoralidade. Krishna teve relações sexuais com muitas garotas chamadas vaqueiras. Ele as atraia com sua flauta para o meio da floresta, enquanto tomava banho e aí roubava suas roupas. Ele teve 16 mil mulheres. Seu caráter é marcado pelo roubo e pela sensualidade e luxúria. Krishna é a maior de todas as divindades, seu corpo é azul, tem costume de tocar flauta, cuidar de vacas e namorar as vaqueiras. Como conciliar Cristo, santo e imaculado com aquele que é promíscuo e imoral? Como uma música junta cristianismo e krishnaismo como se fosse a mesma coisa? O krishnaismo é espiritismo e o espiritismo é frontalmente oposto as verdades cristãs. É lamentável que se faça campanha contra uma música simplesmente por causa da mesmice. Imagine quantas canções seriam eliminadas por esse pobre critério. Exemplo disso, os parabéns pra você nos aniversários e o Roberto Carlos todo fim de ano na Rede Globo. Quase ninguém critica a musica “Então é Natal” pelo seu conteúdo anticristão, afinal de contas, para muitos é um assunto bobo, trivialidade religiosa, pois conforme dizem as “religiões são diferentes caminhos que levam a Deus”. Será mesmo? O filósofo Ravi Zacarias, acertadamente disse que as religiões não são essencialmente iguais e superficialmente diferentes, são sim justamente o contrário, superficialmente iguais e essencialmente diferentes. Basta lembrar do princípio básico da lógica aristotélica, a chamada Lei da Não-Contradição que afirma que se duas idéias se opõem, ambas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Posso até desconsiderá-las e afirmar que ambas são erradas ou então admitir logicamente que somente uma esteja certa, mas nunca poderei provar racionalmente a veracidade de ambas. A verdade por sua própria natureza é excludente. Cristo exclui Krishna e vice-verso. Para você que celebra o Natal com certeza faz toda a diferença saber a identidade daquele que nasceu na manjedoura em Belém. Nada contra Simone, ela é um ser humano e uma pecadora como eu e você, mas tanto ela como qualquer pessoa precisa saber que “Hare rama” que é Krishna não nasceu e não morreu por ninguém, quem fez isso foi “Yeshua ha Mashiach” – Jesus Cristo, o Messias - e um está tão distante do outro como a terra do céu. 

BIBLIOGRAFIA

CACP- Centro Apologético Cristão de Pesquisas. Disponível em <> www.cacp.org.br.
Defesa da Fé. Revista de Apologética do ICP – Instituto Cristão de Pesquisas. Ano 3, edição nº 14 setembro de 1999.
Disponível em <>http://www.orapiulas.com. Acesso em 08/12/11
Disponível em <>http://tempreguicanao.blogspot.com. Acesso em 08/07/11
Disponível em <>http://jairfilho.blogspot.com Acesso em 08/07/11
Disponível em <>http://pt.wikiquote.org/wiki/Simone_Bittencourt_de_Oliveira. Acesso em 07/12/11
Disponível em <>http://pt.wikipedia.org/wiki/Simone. Acesso em 07/12/11
Disponível em <>http://moananui.wordpress.com/ Acesso em 07/12/11
Disponível em <>http://intellectus-site.com/site1/artigos/os-beatles-e-krishna.html. Acesso em 09/12/11



quinta-feira, 30 de outubro de 2014

31 de Outubro – Lutero, as Crianças e os Professores

Por Gildo Gomes

Daqui a três anos os evangélicos do mundo inteiro celebrarão os 500 anos da Reforma Protestante embora muitos estejam distantes do legado e teologia reformada. Infelizmente o dia 31 de outubro é comumente conhecido como o “Dia das Bruxas” e nos Estados Unidos até mesmo autoridades políticas vestem-se de modo apropriado aos festejos da época. Exemplo disso foi o vice-presidente Albert Gore e sua esposa fantasiados de múmias no halloween de 2000. Entre os poucos anos que os americanos não conseguiram comemorar a bruxaria, 2012 foi um deles devido o furacão Sandy que obrigou a cancelar a tradicional parada das bruxas em Nova York. Aqui no Brasil com o objetivo de afastar a influência estadunidense e resgatar o folclore brasileiro, vários municípios como Vitória (Espírito Santo); Poços de Caldas e Ubureba (Minas Gerais); e Fortaleza e Independência (Ceará) já oficializaram a data de 31 de outubro como o Dia do Saci. É uma mudança da bruxaria-Wicca para as diabruras-Pererê. Mas nenhuma dessas comemorações culturais fantasiosas podem ofuscar um dos fatos histórico-religioso mais importante do mundo, ocorrido nesse mesmo dia no ano de 1517 na Alemanha. Refiro-me a Reforma Protestante, cuja data de 31 de outubro, um dia antes do Dia de Todos os Santos e do Dia de Finados, lembra a fixação das Noventa e Cinco Teses por Martinho Lutero no portão da igreja do castelo de Wittenberg. Apesar de serrem conhecidas popularmente como 95 teses seu verdadeiro nome era Debate para o esclarecimento do valor das indulgências. É comum nessa data alguns alemães colocarem fotos de Lutero com um cisne como pano de fundo numa homenagem ao reformador. O cisne é uma referência ao que disse o boêmio John Huss que viveu antes de Lutero. Huss e seus livros foram queimado pela Igreja Católica em 6 de Julho de 1415. Uma tradição afirma que em sua cela, pouco antes de morrer ele havia escrito: “Hoje, vocês irão queimar um ganso (o significado de “Hus” na língua tcheca); porém, daqui a cem anos, vocês irão escutar um cisne cantando. Vocês não irão queimá-lo, mas terão de ouvi-lo”. Até hoje essa mensagem de Huss é vista como uma profecia, pois mais de cem anos depois de sua morte, à Igreja Católica e toda a Europa ouviu o cisne cantar. O próprio Lutero em seu tempo foi acusado de ser um hussita e numa carta para Espalatino expressou: “Sem suspeitar, ensinei a doutrina de João Hus. Então Staupitz é hussita. Agostinho e São Paulo são hussitas. Não sei o que pensar quando vejo a verdade evangélica queimada e condenada há séculos sem que ninguém tome a defesa...”[1]. Semelhante ao apóstolo Paulo, Lutero colocou o mundo de cabeça para baixo e revolucionou sua época não por uma mensagem nova, mas simplesmente conclamando os cristãos ao retorno do autêntico evangelho. Lutero não era um revolucionário ou restauracionista e por isso não concordava que os cristãos protestantes fossem chamados de luteranos. Afinal ele cria numa “igreja santa, católica e apostólica”. A mudança de perspectiva teológica de Lutero veio com o estudo da epístola de Paulo aos Romanos que similar a uma espada, quebrou suas correntes. A mesma epístola que no 4º século despertou o interesse de Santo Agostinho, o patrono de sua ordem, quando as crianças cantavam: “Tolle lege, tolle lege”, que significa: “pegue e leia”. Agostinho leu Romanos e sua vida mudou para sempre e com Lutero se deu o mesmo. A mensagem da doutrina da justificação por fé somente tão clara e sistematicamente exposta pelo apóstolo, tornou-se tão marcante na vida de Martim Luder que passou a assinar seu nome após 1518 como Martinho Lutero, pois na língua grega eleutheros, quer dizer liberto [2]. Mas, afinal o que aconteceu na época de Lutero? Os historiadores geralmente explicam a Reforma Protestante do século XVI descrevendo seus dois grandes princípios: o sola fide – a doutrina da salvação pela fé somente que foi sua causa material; e o sola Scriptura – a doutrina da autoridade única e absoluta da Bíblia como  sua causa formal. 
Nesse tempo os abusos do papa Leão X e a venda das indulgências para a construção da Basílica de São Pedro, motivou Lutero a se posicionar sobre os acontecimentos e assim escreveu suas proposições para o debate. Nelas ele denunciava as irregularidades e mostrava a fundamentação bíblica do verdadeiro arrependimento. Lutero não queria dividir a igreja, mas reformá-la por dentro o que se tornou impossível na medida que o embate continuava. A bula de excomunhão, foi emitida pelo papa e comparava Lutero a uma raposa que entrou na vinha do Senhor e deveria ser detido. Cerca de quatorze de suas teses foram condenadas e seus livros queimados publicamente. A resposta de Lutero a bula foi enérgica. Convocou a juventude universitária e jogou a bula na fogueira, exclamando: “Por teres entristecido o Santo de Deus [referindo-se a Jesus e não a ele], consuma-te o fogo eterno”[3]. Não havia mais volta e o desenrolar da história já sabemos: desenvolvimento, divisões e avanços do protestantismo na Europa e no mundo com a consequente reação do catolicismo. A Igreja Católica respondeu com a Contrarreforma, e através do Concílio de Trento, reestabeleceu a Santa Inquisição; criou a Companhia de Jesus (os jesuítas); e uma lista de livros proibidos (Index). Os desdobramentos dessa discordância religiosa resultaram em terríveis consequências no decorrer dos anos. Basta citar, por exemplo, que os primeiros missionários protestantes enviados ao Brasil foram martirizados. E mesmo depois de tantos anos com a simbólica assinatura de luteranos e católicos da Declaração Conjunto sobre a Justificação entre católicos e protestantes na data de 31 de outubro de 1999, as diferenças persistem. E isso porque a distância teológica entre católicos e evangélicos desde a Reforma Protestante é a mesma entre a terra e o sol. É a distância entre a salvação pela fé com as obras num esforço humano de chegar a Deus pelos sacramentos e a salvação pela fé somente com base no exclusivo, perfeito e definitivo sacrifício de Cristo no calvário. Tente misturar água e óleo e será algo similar a juntar os conceitos e doutrinas católicas e protestantes. Simplesmente se excluem mutuamente. A Igreja Católica paganizou-se e no tempo de Lutero chegou ao cúmulo dos absurdos de Tetzel em vender terrenos no céu a mando do papa. Mas a igreja evangélica quase cinco séculos depois caminha na mesma direção e como seria bom se os evangélicos escutassem as sábias palavras de Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo católico da diocese de Blumenau,em Santa Catarina, que disse certa vez: “Se a igreja protestante brasileira deixar de pregar o evangelho da porta estreita, deixar de ensinar as Escrituras Sagradas, deixar de condenar o pecado, deixar de exigir autenticidade, deixar de encorajar a prática diária da leitura da Bíblia e da oração, deixar de valorizar o testemunho de seus membros no meio da sociedade, deixar de lado a importância e a necessidade de cada fiel dizer não à sua natureza pecaminosa, deixar de condenar a soberba e a segurança própria, deixar de valorizar mais a qualidade do que a quantidade, deixar em segundo plano o pleno exercício do amor, deixar de gerar alegria e entusiasmo em seus fiéis e deixar de proclamar a volta de Jesus em poder e glória ela será obrigada, mais cedo ou mais tarde, a se lastimar profundamente à semelhança de alguns líderes do maior contingente católico do mundo”[4]. Quase cai da cadeira quando li pela primeira vez essas palavras de um bispo católico. Acertou bem no meio do estômago evangélico. Enquanto Lutero anunciou a loucura do evangelho, hoje se ver a loucura de muitos evangélicos em busca de dinheiro, poder e fama. Precisamos de outro Lutero e de uma outra Reforma na igreja evangélica brasileira já.
Mas outubro é também o mês das crianças e dos professores e Lutero tem muito a ver com tudo isso. Afinal foi ele quem enfatizou o ensino e o cântico congregacional com a participação das crianças numa época em que os pequenos eram esquecidos. E muitas igrejas evangélicas da atualidade agem como se as crianças não existissem e as deixam a mercê da própria sorte numa sociedade totalmente corrompida pelo crime, roubo, drogas, prostituição virtual e real, homossexualismo, filosofias ateístas e imorais, sensualidade e decadência familiar. Ora, uma igreja que se encurva diante do deus Mamon certamente não enxergará as crianças, pois elas não produzem os lucros aos discípulos da teologia da prosperidade ávidos pelos investimentos de retorno rápido no mercado religioso. E nessa ótica capitalista os adultos serão sempre os alvos da propaganda e ações eclesiásticas egoístas. A importância que Lutero dava as crianças era tão grande que em 1537 chegou a frisar que nenhum de seus livros merecia preservação a não ser a obra “Nascido Escravo” e o “Catecismo para as Crianças” [5]. Lembre-se que Lutero escreveu um catecismo mais volumoso para os pastores, porém menciona o catecismo aos infantes como um dos seus escritos mais importantes para a posteridade. Esse era o gigante Lutero de uma estatura espiritual tão grande que não se esquecia dos pequeninos. E isso fazia dele um mestre mais excelente ainda.
Em outubro os professores são homenageados e mais uma vez a figura de Lutero se destaca no seu papel de educador. Afinal a ideia que temos hoje de uma escola pública dividida em ensino fundamental, médio e superior nasceu do projeto educacional do nobre reformador alemão. Isso mesmo, Lutero dizia que “a maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos”[6] Ainda hoje países onde o protestantismo penetrou percebe-se a elevação educacional ampla e acessível para todos. O próprio Lutero era um homem da palavra e diariamente comprometido com o ensino do povo cristão. A agenda semanal de Martinho Lutero deixa hoje qualquer docente ou teólogo-mestre envergonhado. Se não veja: no domingo, às 5 hs Lutero pregava nas epístolas paulinas; às 9 hs, pregava nos evangelhos; e à tarde no catecismo; nas segundas e terças-feiras, pregava no catecismo; na quarta-feira, o ensino do evangelho de Mateus; e na quinta e na sexta-feira, ensinava nas epístolas gerais [7]. A maioria dos pastores hoje leem pouco, estudam mais pouco ainda e pregam sermões entediantes e superficiais. Não se preocupam com o que as pessoas creem. Basta serem ofertantes e dizimistas e somente por isso serão considerados verdadeiros cristãos. E apesar de elogiarem Lutero estão longe das suas atitudes e ensino. Em pleno século XXI certos evangélicos ainda são contrários ao conhecimento, alegando que a “letra mata” e com isso acabam por dizer que a ignorância gera vida. Lutero teve uma próspera carreira acadêmica: foi ordenado sacerdote em 1507 entrando na ordem agostiniana, estudou filosofia na Universidade de Erfurt, doutorou-se em teologia e lecionou como professor em Wittemberg. Recebeu o grau de mestre em artes. Estudou línguas, gramática, retórica, história natural e astronomia sem contar seu gosto pela música que o levou a aprender a tocar alaúde. Um homem com grande dádivas de Deus e que soube usá-las para a Glória do Senhor. Aliás, esse foi um dos brados da Reforma: Soli Deo Gloria – Somente a Deus a Glória.


BIBLIOGRAFIA
[1] SAUSSURE, A. de. Lutero. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. p  55
[2] LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja, 1ª ed. São Paulo: Editora Martim Claret, 2008. p 13
[3] SAUSSURE, A. de. Lutero. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. p 61
[4] ICP, Revista Defesa da Fé. Edição nº 76 p.55
[5] SAUSSURE, A. de. Lutero. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2003. p 108
[6] Revista Nova Escola, Edição Especial nº 10, vol II, agosto de 2006.
[7] FERREIRA, Franklin. Servos de Deus. 1ª ed. São Paulo: Editora Fiel, 2014. p 465




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Augusto Cury e o Evangelho da Autoestima


Recentemente foi lançada no Brasil a Bíblia de estudo do Dr. Augusto Cury pela editora Abba Press. Possuo muitas Bíblias de estudo e no momento estou lendo a Bíblia de Matthew Henry. Sinceramente ainda não decidi se comprarei a Bíblia de Augusto Cury. Posso imaginar pelos seus livros escritos o conteúdo registrado na Bíblia Freemind – Mentes Livres. Nela está inserida 200 páginas de sua tese de dourado para auxílio do leitor. Acredito que a intenção de Augusto Cury é proporcionar ao leitor uma mente livre não pelo conteúdo bíblico em si, mas pelas técnicas da psicanálise defendidas por ele. Muitos não sabem mas Augusto Cury é um ex-ateu e é hoje um autor conhecido e reconhecido mundialmente por seus livros nas áreas da psicologia, psicanálise e educação. É tão lido entre evangélicos que alguns acham até que ele pertence a alguma denominação protestante. Na verdade Augusto Cury é sem religião. Como ele mesmo já disse: “Acho belo as pessoas que tem uma religião, que defendem o que creem com respeito e que são capazes de expor e não impor suas ideias. Quanto a mim, não tenho nem defendo uma religião. Minhas pesquisas sobre Jesus Cristo me levaram a ser um cristão sem fronteiras.”[1] Augusto Cury não esclarece bem o que significa ser um “cristão sem fronteira”, mas ele explica que quando as pessoas queriam saber o rótulo ou a bandeira religiosa de Jesus, o mestre respondia “Eu sou o filho do homem”, frase que Augusto Cury interpreta como um servo da humanidade. Parece então que segundo Augusto Cury para amar e servir as pessoas não se deve estar ligado necessariamente a uma religião. Esse seu conceito e postura facilita a vendagem e circulação de suas obras, pois em sua abordagem psicológica de Jesus dificilmente desagradará a cristãos, judeus ou mesmo os islâmicos. Os primeiros creem na encarnação, divindade, morte, ressurreição e ascensão de Jesus; o segundo grupo acredita na sua existência e crucificação, mas que ele não era o filho de Deus; e os islâmicos acreditam num Jesus profeta que não foi crucificado. E claro, judeus e islâmicos descreem da divindade de Cristo. Em seus escritos Augusto Cury não enfatiza esses aspectos, já que sua interpretação psicológica dos textos bíblicos, constituem mais aplicações individuais equivocadas, fruto de uma exegese tendenciosa e psicanalítica da Bíblia. Em O Mestre da Sensibilidade, por exemplo, após Augusto Cury mencionar a expulsão dos vendilhões do templo, ele conclui que “Precisamos aprender com o mestre de Nazaré a fazer uma “faxina” no templo de nosso interior. Virar a “mesa” dos pensamentos negativos. Extirpar o “comércio” do medo e da insegurança. Reciclar nossa rigidez e rever o superficialismo com que reagimos aos eventos da vida.”[2] Apesar de Augusto Cury falar de “faxina” da alma, jamais fala sobre o novo nascimento. Também não defini o conceito de pecado segundo a Bíblia, pois assim como não explica a limpeza interior segundo Jesus não poderá falar da sujeira do coração segundo a escritura. Para Augusto Cury o problema fundamental do homem não é o pecado e, sim, “a debilidade física do corpo e a incapacidade de gerenciar pensamentos e emoções.”[3] Dessa forma tanto o ensino quanto a pessoa de Cristo não são apresentados nas obras de Augusto Cury conforme o texto canônico. E assim ao invés de um retrato fiel de Cristo e seu ensino o que teremos é a caricatura de um evangelho da autoestima que exalta o homem e não a Deus. A regra de que a escritura interpreta a escritura não é levada em conta por Augusto Cury e, sim, uma interpretação da Bíblia à luz da psicanálise. Num exemplo, ao interpretar João 17.26 ele diz que “A análise psicológica dessas breves palavras tem grandes implicações que se contrapõe a conceitos triviais.”[4] Augusto Cury enfatiza o livre-arbítrio do homem e solapa a soberania de Deus. Apesar de fazer referências a um projeto de Deus, o faz como sendo um sonho divino que a qualquer momento pode ser interrompido pelo homem. Em outras palavras seria um projeto que pode ser frustrado pelo ser humano o que contradiz frontalmente a Bíblia (Jó 42.2). No livro Os Segredos do Pai-Nosso, ele conclui com a terrível frase “Deus e o ser humano são dois seres solitários que vivem no teatro da existência procurando ansiosamente um ao outro no pequeno parêntese do tempo...”[5] Em outro livro, Mestre da Vida, Augusto Cury chega ao ponto de frisar que “Apesar de saber todas as coisas, Deus não intervém na humanidade da forma como gostaríamos e como ele desejaria intervir. Caso contrário, passaria por cima do seus próprios princípios. Transgrediria a liberdade que dá aos seres humanos de seguirem seu destino na pequena bolha do tempo.” [6] Significa que para Augusto Cury existe uma busca ansiosa entre Deus e o homem a fim de ambos se encontrarem e resolverem o problema da solidão e que no final das contas a liberdade humana é quem determina o exercício da soberania divina.
Porém agora com o lançamento da Bíblia Freemind – Mentes Livres, de Augusto Cury, a preocupação tonar-se maior pela influência que exercerá entre os cristãos protestantes e o uso dessa Bíblia nos púlpitos das igrejas. Numa época onde o púlpito evangélico tornou-se um centro irradiador de pregações antropocêntricas centralizadas no ego sob o confuso termo de autoestima, a tendência é o aumento da confusão sobre o amor próprio tão propalado nos dias atuais. O próprio Augusto Cury é o fundador do PAIQ – Programa da Academia de Inteligência de Qualidade de Vida que tem doze capítulos com doze leis de qualidade de vida. Qualquer semelhança com o G12 por causa do número 12 é mera coincidência, se bem que o material pode ser utilizado pelos gedozistas já que não se preocupam com doutrina bíblica. O programa pretende plantar no coração das pessoas “a sementes de “ser autor da própria história”, de “contemplar o belo para expandir o prazer de viver”, de “gerenciar os pensamentos”, da “arte do diálogo”, da “proteção da memória” dentre outras.” [7] O programa enfatiza a mesa redonda do “Eu” para um constante diálogo consigo mesmo, sem referir-se jamais a natureza pecaminosa do homem, a necessidade de nascer de novo e o processo de santificação e consequentemente a formação do fruto do Espírito Santo no homem. Para Augusto Cury os recursos para resolver os problemas interiores do ser humano estão dentro do próprio homem e não fora dele mesmo e por isso nunca precisará clamar por um libertador.
Certa vez o inglês Loyd Jones, médico e depois pregador na Capela de Westminster afirmou que “todo o problema da vida é, em última análise a preocupação com o ego”. [8] Jesus, resumiu toda a lei em dois mandamentos: O primeiro, amar a Deus com todo o entendimento, alma e coração; e o segundo, amar o próximo como a si mesmo. Nos tempos modernos, por influência da psicologia, que orgulhosa e literalmente defini-se como a ciência que estuda a psiquê, ou seja, a alma humana, acrescentou-se um terceiro mandamento: O AMOR A SI PRÓPRIO. Digo orgulhosa porque uma ciência que estuda não o cérebro que é algo físico, mas a mente (alma) que é algo não físico, é certamente prepotente. Imagine você uma ciência estudar o invisível e ainda assim ser considerada ciência, é algo tão incrível que só podemos comparar a uma mágica que deu ao mundo um presente semelhante ao Cavalo de Tróia da antiga Grécia. Porém com seus postulados altamente questionáveis a psicologia diz que só podemos amar alguém se primeiro amarmos a nós mesmos e reconhecermos nosso valor pessoal. O mais terrível é que na época atual caracterizada pelo ódio, violência, desrespeito e autoritarismo o nosso maior problema não é que nos amamos pouco, ao contrário, nos amamos bem demais. Tanto a minha como a sua maior dificuldade não é em amar-se, mas em amar a Deus, nosso criador e amar o próximo, nosso semelhante. Nem eu, nem você e nem ninguém tem problemas de amor próprio, e por isso Jesus disse que deveríamos amar o próximo como a nós mesmos, pois ele partiu do princípio que o amor a si já é latente no ser humano. Não são três mandamentos do tipo: AMOR A DEUS, AMOR AO PRÓXIMO E AMOR A SI PRÓPRIO e, sim, apenas dois: AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO, onde o segundo depende do primeiro. Ensinar que o ser humano precisa aprender a amar a si primeiro para depois amar o seu próximo é o mesmo que querer apagar um grande incêndio usando uma mangueira ligada no posto de gasolina. O homem é imagem e semelhança de Deus e tal expressão nos lembra um espelho. O interessante é que um espelho reflete sempre uma imagem que não é sua. Algum problema na imagem refletida não é uma questão de auto-ajuste do espelho, mas sua posição errada com a realidade que reflete. Igualmente nós refletimos uma dignidade que não é nossa, a recebemos na criação e por isso, quando refletimos mal trata-se de erro de relacionamento criatura-Criador e não de auto-imagem. Ora, o erro colossal da psicologia secular da autoestima é este: Ninguém odeia a si mesmo, pois caso fosse verdade as críticas feitas a alguém seriam recebidas com alegria e não com zanga ou tristeza. Na verdade as pessoas odeiam as circunstâncias e situações da vida e não a si mesmas. Mesmo o pior assassino se considera uma pessoa boa e amante de si. Até um suicida, cometeu tal ato por amor próprio, por dominar-se pelo próprio ego e não por falta de amor a si mesmo. 
Como disse o psicólogo David G. Meyers: “As pessoas costumam atribuir a si mesmas os comportamentos positivos e a fatores externos os comportamentos negativos, permitindo-se receber o crédito por suas boas ações e negar a responsabilidade pelas más.”[9] Como prova disso dificilmente você encontra alguém que rejeita o elogio pelo sucesso ou aceita a culpa pelo fracasso. Não, a tendência é o contrário. A egolatria portanto, é o nosso grande problema e não a ausência de amor próprio. Afinal de contas ninguém chega para o seu espelho mágico e diz: “Espelho, espelho meu quem é mais feio do eu”? Chegamos ao nosso espelho e perguntamos quem é mais belo, mais inteligente ou mais bem sucedido. Desde que o mal entrou no gênero humano sempre existiram pessoas egocêntricas e orgulhosas, mas a atual geração se caracteriza por intelectualizar o orgulho sob outros nomes como autoestima, amor próprio, autoimagem, aceitação de si, perdão a si mesmo, complexo de inferioridade e outros. O orgulho tem hoje grande influência da psicologia e de seus psicólogos-sacerdotes como Freud, Jung e Carl Roger. Freud lutou durante parte de sua vida contra a depressão e chegou a usar cocaína por anos a fim de aliviar suas dores psicológicas. [10] Jung falava com espíritos e relata até “viagens” com os mortos e tinha um espírito-guia chamado Filemon [11]. E de Carl Roger, um psicólogo humanista norte-americano que enfatizou a autoestima, temos um exemplo triste do mal que a autoestima pode fazer. Ao responder porque não dera atenção necessária a sua esposa, nos últimos meses de sua doença terminal, ele simplesmente disse “que era necessário para minha sobrevivência que eu vivesse a minha vida, e que isso deveria vir em primeiro lugar, apesar de Helen estar tão doente”. [12] Ainda lembro-me como ficou o rosto da professora de psicologia na faculdade quando citei esse episódio rogeriano, mas uma colega de sala, concordou com a atitude de Roger e acrescentou que cada pessoa deve ser íntegra consigo mesma. Sem querer ela mostrou para a turma que a autoestima é apenas outro sinônimo elegante para orgulho. A filosofia da autoestima produziu e continuará produzindo pessoas assim, orgulhosas de si, íntegras com seu próprio ego e o que é pior, elas terão orgulho de serem orgulhosas. Não é sem propósito que o apóstolo Paulo ao citar as terríveis características do final dos tempos em 2º Timóteo 3, ele começa dizendo que “os homens serão amantes de si mesmos”.

BIBLIOGRAFIA

[1] CURY, Augusto. Nunca desista de seus sonhos. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. p 132
[2] CURY, Augusto. O Mestre da Sensibilidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p 84
[3] CURY, Augusto. O Mestre da Vida. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p 144
[4] CURY, Augusto. O Mestre da Sensibilidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p 79
[5] CURY, Augusto. Os Segredos do Pai-Nosso. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p 141
[6] CURY, Augusto. O Mestre da Vida. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. p 144
[7] CURY, Augusto. 12 Semanas para mudar uma vida. 1ª ed. São Paulo: Academia, 2007. p 14
[8] HUNT, Dave. Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1995 p.164
[9] HUNT, Dave. Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1995 p.169
[10] NICHOLI, Armando M. Deus em Questão C. S. Lewis e Freud. 1ª ed. Minas Gerais: Ultimato, 2005. p 78
[11] HUNT, Dave. Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1995 p.227
[12] HUNT, Dave. Escapando da Sedução. 1ª ed. Porto Alegre: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1995 p.165


quarta-feira, 9 de julho de 2014

ESPOSA DE PASTORES SÃO REALMENTE PASTORAS?

Por Gildo Gomes

O convite ao lado é de um órgão oficial de um ministério feminino de uma conceituada igreja evangélica cearense. Esse convite é para o dia das mães no mês de maio de 2014. Nele as mulheres, esposas de pastores são chamadas de “pastoras”. Essa é uma prática tão comum no meio evangélico atual, que na medida que o tempo passa o uso do termo “pastora” em certas denominações protestantes, mesmo contrárias a ordenação pastoral feminina já não causa tanta estranheza entre os cristãos como antigamente. Geralmente na posse de um novo pastor de uma congregação evangélica, frequentemente se escuta sua esposa ser chamada de pastora. Há pastores que inclusive chegam a dizer que sua esposa é 50% de seu ministério; e outros com ar de triunfo afirmam que sua esposa é responsável por 90% de seu trabalho ministerial. Na prática isto é o que realmente temos visto acontecer. Um exemplo disso, é que as esposas dos pastores são, via de regra, a presidente do Departamento de Senhoras e a tesoureira da igreja local.  Muitas delas exercem uma influência tão forte que acabam tomando o oficio do presbitério da igreja, pois são as esposas dos pastores as primeiras a saberem e participar de decisões sobre questões importantíssimas da igreja como disciplina de membros e separações ao ministério. Ora, ao serem tratadas como pastoras na igreja ninguém poderá condená-las por agir assim. Geralmente os próprios presbíteros ou diáconos locais na ausência do pastor não tomam uma decisão sem antes consultar aquela que consideram pastora. O mais interessante é que essa prática de chamar a esposa do pastor de pastora cresceu no mesmo período em que as famílias dos ministros dominam absolutamente as igrejas ao seu bel prazer. Há em muitos ministérios uma espécie de nepotismo religioso, similar ao nepotismo político, onde o pastor e sua família comandam a igreja como se fosse sua própria propriedade. É comum hoje em dia e muito estranho os filhos, netos e genros de pastores terem chamada ministerial. Qualquer pessoa hoje que verificar a quantidade de ministros ordenados ligados por parentesco se assustará. A conclusão é que o ministério virou uma verdadeira tribo familiar. O óleo da unção desce fácil sobre a barba do filho, do irmão e cunhado do pastor. Não que alguém por ser filho ou parente de um pastor esteja desqualificado para o exercício pastoral, mas o que vemos em nossos dias é praticamente uma regra baseada no parentesco na escolha de obreiros para obra do Senhor. E é nesse contexto que as esposas dos pastores tem sido chamadas de pastoras. Apesar de muitas denominações não aprovarem a ordenação pastoral de mulheres é fato que as famílias dos líderes exercem grande domínio sobre o rebanho e então porque não chamar de pastora a esposa do pastor? Para muitas mulheres enquanto sua denominação não se posiciona oficialmente sobre a ordenação pastoral feminina, elas gozam dessa posição por vínculo matrimonial. Acredito que isso não é apenas uma questão de honrar a mulher do pastor, mas antes de tudo uma forma de preparar o terreno para o ministério pastoral feminino. Os defensores da ordenação de pastoras inclusive dirão que é uma maneira de quebrar os preconceitos para algo que não é mais possível a igreja acreditar, sem contar que a palavra machismo será sempre lembrada como um mantra para encerrar o assunto sem exigir a real interpretação dos textos bíblicos sobre a questão.
 Há atualmente um enorme debate evangélico sobre a ordenação pastoral feminina. Os grupos dividem-se em igualitaristas e diferencialistas. Os primeiros acreditam que Deus criou o homem e a mulher iguais em natureza e papéis e que qualquer diferença entre ambos inferioriza a mulher e por isso, homem e mulher podem assumir o pastorado numa congregação. Os diferencialistas por sua vez, acreditam também na igualdade entre homem e mulher, porém creem que desde a criação homem e mulher receberam papéis diferenciados tanto na família como na igreja e que por isso, é vedado a mulher o exercício do pastorado. Mas enquanto a controvérsia segue e as denominações vão tomando suas posições, existem aquelas que sem aceitar ou fingirem que rejeitam a ordenação feminina, reconhecem normalmente as esposas dos pastores como pastoras e dessa forma são vistas e tratadas pelos membros da congregação. Aludem que a esposa faz parte do ministério do pastor e que portanto a atribuição é justa. Se assim é verdade, então os filhos do casal são os pastorzinhos. Mas no caso da esposa o raciocínio funciona mais ou mesmo assim: como ambos são uma só carne então serão também um só ministério. Mas por esse mesmo raciocínio antibíblico as mulheres dos presbíteros e diáconos serão igualmente as presbíteras e diaconisas afinal são casadas com homens que assumem essas funções ministeriais. O interessante é que no caso dos apóstolos a Bíblia diz “Porventura não temos o direito de levar conosco uma crente como esposa, como também os outros apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1Co 9:5). Se essa moda existisse entre os apóstolos, suas esposas seriam as apóstolas e Pedro viajaria com a sua apostoliza. Fora da igreja a prática de conceder o título e o tratamento de uma mulher pela função do seu marido seria um desastre para a sociedade. Imagine que a esposa de um prefeito seria uma prefeita, de um juiz uma juíza, de um médico, uma médica e assim por diante. Mas porque não se faz isso? Simplesmente porque é sem sentido e ilógico. Porém no meio evangélico a lógica funciona como um domínio familiar no presente e uma antecipação de futuras consagrações de mulheres no futuro. Enquanto algumas denominações já reconhecem as mulheres como pastoras pela ordenação; outras para não chocar os crentes mais antigos, rejeitam a ordenação feminina, mas não veem nada de errado as esposas dos líderes serem pastoras via matrimônio. Ou seja, o casamento que uniu a carne também já uniu o ministério e a esposa do pastor é também uma pastora. E como no presente não há resistência dessa prática, num futuro com a aprovação do ministério pastoral feminino a mente dos membros já acostumada com as “pastoras pelo casamento”, não terão dificuldades de aceitar as “pastoras pela ordenação”. E já que alguns crentes chamam o pastor de “anjo da Igreja”, como serão mesmo chamadas as atuais esposas pastoras  ou futuras pastoras? Será a “anja do Senhor”? Acredito que não. No caso das pastoras pelo casamento os membros poderão usar o plural “anjos do Senhor”, referindo-se ao pastor e sua esposa pastora, pois “anja” suscita problemas teológicos e soa meio estranho, apesar dessa gente não ter nenhuma preocupação com teologia bíblica ou coisa estranha.
Paulo menciona que alguns apóstolos levavam uma esposa crente em suas viagens. Para que menção mais honrosa para uma esposa de pastor do que uma crente em Jesus? As esposas de pastores jamais devem ser chamadas de pastoras, mas devem ser tratadas como crentes em Jesus que fazem parte do corpo de Cristo e gozam do amor e respeito de todos. E o fato de não ser chamada de pastora não significa que não possa assumir funções na igreja e exercê-la com maestria e cooperação dos demais membros da congregação para glória do Senhor e edificação do corpo de Cristo.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Maria Madalena, a prostituta. Quem disse?

Por Gildo Gomes


O Novo Testamento menciona várias personagens com esse nome. No grego Maria ou Mariam deriva-se do hebreu Miriã. Segundo o Novo Dicionário da Bíblia o nome Maria “possivelmente se deriva do vocábulo egípcio Maryê, e significa ‘amada’, embora isso seja extremamente duvidoso [1]. Maria é um nome que aparece mais de 50 vezes na Bíblia. Claro, nem todas as menções do nome refere-se sempre a Maria, mãe de Jesus, até porque na Bíblia temos seis mulheres chamadas de Maria. Elas são: 01) Maria, a mulher de Cleófas: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19.25); 02) Maria mãe de Marcos, a única referência sobre ela está em Atos 12.12: “Refletiu um momento e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos se tinham reunido e faziam oração”; 03) Maria de Betânia, é a Maria irmã de Marta e muito conhecida devido as circunstâncias que envolve o seu nome na ressurreição de Lázaro, seu irmão. Seu nome aparece no evangelho de Lucas (Lc 10.38-42) e no evangelho de João (Jo 11.1,2); 04) Maria de Roma, que é mencionada apenas uma vez no Novo Testamento em Rm 16.6: “Saudai Maria, que muito trabalhou por vós”;  05) Maria, mãe de Jesus. A primeira referência bíblica sobre Maria, mãe de Jesus está em Mateus 1.14; e a última em Atos 1.14. As outras passagens bíblicas sobre a mãe de Jesus são: Lc 1.46,47; Mt 1.18-23; Mt 2.46,47; Lc 2.21-24; Lc 2.42-50; João 2.3,4; Mc 3.31-33; Lc 11,27,28; Mt 13.53-58; At 1.14); e em 06) Maria Madalena, mencionada nos evangelhos em Mt 27.56,61; 28.1; Mc 15.40,47; 16.1,9; Lc 8.2; 24.10; Jo 19.25; 20.1,18. É a personagem tema do presente estudo. De início, caso você confira as referências bíblicas citadas anteriormente, perceberá que nenhuma diz que ela era uma prostituta. Padres, pastores e seminaristas já chamaram Maria Madalena de prostituta tantas vezes que causa assombro para alguns questionar tal declaração. A maioria esmagadora dos católicos ainda dizem que Maria Madalena era prostituta e boa parte dos evangélicos também. E isso depois da própria Igreja Católica corrigir o equívoco desde 1969 e entre os evangélicos haver bastante esclarecimento da má interpretação. Há católicos que chegam até a chama-la de a “santa das prostitutas”; e certos evangélicos confundem-na com a mulher adúltera de João capítulo 8. Mas como foi que surgiu tal confusão? E se a Bíblia nunca chama Maria Madalena de prostituta como surgiu essa ideia na história cristã? Esse é um exemplo clássico de dizer o que a Bíblia não diz. Ela é chamada Maria Madalena por causa de sua terra natal, Magdala, que ficava na costa ocidental da Galileia. Geralmente, as mulheres casadas recebiam o nome de seu esposo como Maria de Cleófas; e se fosse solteira seu nome era associado a sua terra natal como Maria de Nazaré, antes de casar-se com José, por exemplo. Deduz-se então que Maria Madalena era uma mulher solteira já que seu nome é ligado a sua terra, Magdala. Talvez seja por isso que Lucas 8.2 diz que seu nome é Maria, chamada Madalena. E o estigma de prostituta de onde vem? O papa Gregório, o Grande, num sermão da páscoa em 591 d.C., chegou a declarar que a prostituta de Lucas 7 era a Maria Madalena de Lucas 8 e a falácia exegética tomou de conta na era medieval e atravessou os séculos[2]. E claro tudo não passou de um erro de interpretação textual. Não houve nada do tipo estigmatizá-la para acabar com uma suposta rivalidade entre ela e o apóstolo Pedro e esconder o segredo do Santo Graal como quer Dan Brown em O Código Da Vinci[3]. Para quem diz que Dan Brown revelou ao mundo que Maria Madalena nunca foi prostituta, simplesmente se responde que a Bíblia nunca disse tal coisa, portanto ele não corrigiu nada. E não é difícil perceber isso no texto bíblico, basta comparar as narrativas lucanas dos capítulos 7 e 8 para perceber-se claramente que se trata de duas personagens diferentes. O quadro a seguir mostra as diferenças entre as narrativas do mesmo autor.

A Mulher de Lucas 7. 36-50
As Mulheres de Lucas 8. 1-3
A narração do fato é no momento que Jesus entrou na casa de um fariseu;
A narração do fato é depois do episódio anterior e em outro lugar;
Anônima e prostituta, chamada de mulher pecadora;
Identificadas como Maria Madalena, Joana e Suzana;
Chorou aos pés de Cristo, enxugou seus pés com os cabelos, beijou-lhe os pés e ungiu com unguento;
As mulheres prestavam assistência a Jesus com os seus bens;
Jesus perdoou seus pecados;
Jesus curou-as de espírito malignos e de enfermidades;
A mulher não andava com Cristo, pois após o perdão Jesus diz: A tua fé te salvou; vai-te em paz;
As mulheres andavam com Jesus e davam-lhe assistência material certamente como agradecimento;
O texto especifica que era pecadora e foi perdoada por Jesus
O texto especifica que Jesus expulsou sete demônios de Maria Madalena


Referências Bibliográficas

[1] DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. 1ª. ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1962. p.1005
[2] LUTZER, Erwin. A Fraude do Código Da Vinci. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2004. p 73
[3] BROWN, Dan. O Código Da Vinci. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2004. p 231




terça-feira, 20 de maio de 2014

JOÃO GRILO E OS PROTESTANTES BONS DE BÍBLIA

Por Gildo Gomes

O filme o “Auto da Compadecida”, lançado em 10 de setembro do ano de 2000 e dirigido por Guel Arraes, tornou-se um sucesso nacional surpreendente e muita gente até hoje não se cansa de assisti-lo após tantas e tantas vezes. Sim, eu sei que existem ensinamentos antibíblicos em sua mensagem, mas não pretendo deter-me nisso no presente artigo. Ariano Suassuna, o autor da obra homônima é um nordestino que nos orgulha pela genialidade. A escritora Raquel de Queiroz chegou a dizer que uma das coisas mais deliciosas de sua vida foi ler essa obra de Suassuna. E claro ler o livro é sempre mais gostoso que assistir o filme. Recentemente enquanto lia um trecho do julgamento de João Grilo uma parte da peça prendeu-me a atenção. No filme, o ator Matheus Natchergaele encarna o personagem brilhantemente. Dirigindo-se a Jesus, João Grilo, fala: “eu me lembro de uma vez que o padre João estava me ensinado o catecismo, leu um pedaço do evangelho. Lá se dizia que ninguém sabe o dia e a hora em que o dia do juízo será, nem homem, nem os anjos que estão no céu, nem o filho. Somente o pai é que sabe. Está escrito lá assim mesmo? E aí Manuel [Jesus] diz: Está. É no evangelho de São Marcos, capítulo treze, versículo trinta e dois. E o João Grilo diz: Isso é que é conhecer a Bíblia! O Senhor é protestante? E Jesus responde: Sou não João, sou católico. E o João Grilo afirma: Pois na minha terra, quando a gente vê uma pessoa boa e que entende de Bíblia, vai ver é protestante.” [1]
Em sua fala João Grilo, o “amarelo muito safado”, criado por Ariano afirma que em sua terra, uma pessoa boa e que entende de Bíblia certamente era um protestante. Como Ariano Suassuna vem de uma família evangélica da Paraíba a pergunta e a conclusão de João Grilo diante de Jesus não deixa de demonstrar sua experiência do que as pessoas diziam sobre os crentes e o conhecimento que possuíam da Bíblia na sua época. Essa fama ainda hoje é citada, embora com bem menos força, afinal houve um tempo que os protestantes eram chamados de “os Bíblias”. Com a Reforma Protestante do século XVI e o princípio do “sola scriptura” (somente a escritura), os evangélicos tornaram-se exímios estudiosos do livro santo. O próprio reformador Martinho Lutero, tinha uma agenda semanal de muito estudo bíblico com sua congregação. Em Wittenberg, na Igreja do Castelo, aos domingos às 5h, Lutero pregava nas epístolas paulinas; às 9h pregação nos evangelhos sinóticos; e à tarde pregação nos temas do Catecismo menor; nas segundas e terças, Lutero pregava no Catecismo menor; na quarta-feira, pregação no evangelho de Mateus; na quinta e sexta ele pregava nas Epístolas Gerais; e aos sábados, o grande reformador pregava no Evangelho de João [2]. E foi na prática lectio continua, ou seja, exposição continua da Bíblia que a reforma produziu muitos teólogos e igrejas biblicamente sólidas. A Escola Dominical, por exemplo, é uma criação dos evangélicos no século XVIII na Inglaterra que tantas bênçãos produziu aos ingleses e ainda hoje produz na sociedade mundial. Mas toda essa conquista histórica e que acabou por gerar a fama expressa por João Grilo que os protestantes são gente boa e bons de Bíblia, arrefeceu muito nas últimas décadas. Evangélicos de hoje diferentes dos protestantes do passado sabem mais sobre futebol, politica, religião, ciência e até de moda do que sobre a Bíblia. Essa mudança de postura é resultado de várias causas negativas que por sua vez resultaram em consequências desastrosas.

As Causas
  •  Desinteresse pela exposição sistemática da doutrina bíblica;
  •  Liderança despreparada moral e biblicamente;
  •  A crença na filosofia equivocada de que o amor une e a doutrina divide;
  •  Pregadores superficiais com fama de erudição por citar o grego ou usar uma Bíblia de estudo; e fama de unção por rodopiar, tremer a voz e falar em línguas;
  •  Vida piedosa desleixada sem leitura da Bíblia, oração ou jejum;
  •  Profetismo e declarações de vida vitoriosa dissociadas da verdade bíblica;
  •  A busca por fama, dinheiro e posição na sociedade;
  •  A Bíblia interpretada à luz da filosofia, ciência, cultura, conveniências e tendências do mundo moderno e não por ela mesma sob a iluminação do Espírito Santo que inspirou profetas e apóstolos;
As Consequências:
  •  Escândalos sem precedentes na história envolvendo evangélicos;
  • Escolas dominicais vazias de pessoas e de conhecimento bíblico;
  • Cultos de doutrina sem exposição clara e didática das verdades do evangelho como trindade, divindade e humanidade de Cristo, a personalidade do Espírito Santo, os dons e fruto do Espírito, a regeneração, a justificação, a eleição, a santificação e outras;
  • Livros, revistas, sites, blogs e facebooks evangélicos com informações bíblicas distorcidas e descontextualizadas da vida prática das pessoas;
  • Evangélicos com vergonha da pregação do verdadeiro evangelho;
  • Falta de clareza nas declarações e tomadas de posições de denominações evangélicas. Vive-se a época de agradar a gregos e troianos;
  • Cultos, campanhas e festas religiosas que mais parecem eventos sociais irreverentes e não um momento solene de louvor e adoração ao Senhor dos céus e da terra;
  • Pregações que alimentam o ego e a autoestima ao invés de anunciar que os seguidores de Cristo devem renunciar a si mesmos, tomarem sua cruz e segui-lo;

Referências Bibliográficas

[1] SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 34ª. ed. Rio de Janeiro: Agir Editora Ltda, 1999. p 187,188

[2] FERREIRA, Franklin. Os Servos de Deus. 1 ed. São Paulo: Editora Fiel, 2014. p 465

terça-feira, 6 de maio de 2014

COMO O FINITO (CRIATURA) PODE CONHECER O INFINITO (CRIADOR)?

Por Gildo Gomes



Deus é de cima e nós cá de baixo. Ele é infinito e nós somos finitos. E para complicar ainda mais, Ele é tremendamente santo e nós somos terrivelmente pecadores. Não é questão de distância espacial entre nós e Deus, e, sim, uma distância de natureza moral. Então como podemos conhecer aquele que está infinitamente além de nós?, ou seja, como o finito(homem) pode conhecer o infinito(Deus)? Herbert Spencer, um agnóstico, observou certa vez que nunca se viu um pássaro voar para fora do espaço. Com isso ele concluiu por analogia que é impossível o finito penetrar o infinito[1]. A observação de Spencer estava certa, mas sua conclusão esquecia de uma outra possibilidade: que o infinito pode penetrar o finito. E a Bíblia e a história mostra justamente isso: Que o Deus santo, poderoso, infinito revelou-se ao homem pecador, impotente e finito.

O livro de Gênesis nos diz logo no início que Deus era quem tomava a iniciativa para comunicar-se com Adão e não o contrário. E se não fosse assim Adão jamais poderia ter qualquer conhecimento do Deus criador. Como disse Jonh Stott: “Quando a mente humana começa a se preocupar com Deus, torna-se perplexa. Tateia na escuridão. Tropeça. Está perdida. Não é de estranhar que assim ocorra, porque Deus, seja quem for ou o que for, é um ser infinito e imortal, enquanto nós somos mortais e finitos. Ele está totalmente fora de nosso alcance. Desse modo nossa mente, que é um instrumento maravilhosamente efetivo em outros setores, não nos pode ajudar de pronto. Não pode subir a infinita mente de Deus. Não há escada. Existe apenas um vasto e imensurável abismo. “Porventura alcançarás os caminhos de Deus?” (Jó 11:7)[2]. Impossível. Esta situação assim permaneceria, se Deus não houvesse tomado a iniciativa de repara-la” [1]. Se o criador não decidisse falar com a criatura como a criatura poderia conhecer a vontade de seu criador? A bíblia diz: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR.” (Is 55:8).
Na mitologia egípcia quando os viajantes não conseguiam decifrar os enigmas da monstruosa Esfinge, eram logo mortos. Caso Deus, um ser infinito não se revelasse a nós humanos seres finitos, então nós estávamos destinados a mesma sorte e destino fatal. Porém, temos da parte de Deus o conhecimento suficiente para não ficarmos no escuro e nem na ignorância espiritual, visto que Ele enviou dos céus a terra tanto sua palavra escrita (a Bíblia) quanto sua palavra encarnada (Jesus Cristo). Porém muitos preferem ficar na indecisão cética de Pilatos que diante de Jesus perguntou: “Que é a verdade”?. Essa indagação tem sido debatida ao longo dos tempos por filósofos e teólogos. E se não houvesse uma fonte de autoridade além de nós e independente de nós, então tanto Pilatos, e os céticos modernos teriam razão em insinuar que não existe verdade e que portanto não haveria uma propósito final para a existência. Mas a verdade existe e o propósito existencial também. Se pelo menos compreendermos que tanto a pessoa histórica de Jesus  como a Bíblia enquanto documento falaram a verdade acerca dos acontecimentos históricos, comuns e sujeitos a investigação (a crucificação por exemplo), então poderemos concluir que Jesus e a Bíblia gozam da mesma credibilidade nos assuntos invisíveis e não sujeitos a investigação, como o perdão de pecados, por exemplo[3].
Deus revelou-se a humanidade para que a mesma conheça sua origem, sua identidade e seu destino. É por isso que Hebreus afirma: “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho,  a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” (Heb 1:1-2).O texto diz que Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras. Podemos presumir pela bíblia que inicialmente Deus(o criador) revelou-se ao homem(criatura) de duas formas básicas: pela criação e pela consciência conforme os capítulos 1 e 2 de Romanos. A bíblia mostra-nos a glória de Deus apresentada na obra da criação. Como diziam os reformadores a criação é teatro de Deus. Em outras palavras a natureza com sua beleza, ordem e magnificência apontam para a grandeza de seu criador.“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Rm 1:19-20).
O Salmo 19:1-6 diz: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite.  Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes  em toda a extensão da terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol,  que é qual noivo que sai do seu tálamo e se alegra como um herói a correr o seu caminho.  A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso, até à outra extremidade deles; e nada se furta ao seu calor.” Ao mesmo tampo em que temos o testemunho externo da criação, temos ainda o testemunho interno da consciência humana. “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os,” (Rm 2:14-15). Em resumo: externamente Deus revela-se através da natureza criada e internamente através da consciência de cada ser humano. Só que com a desobediência do homem (pecado), uma grande tragédia espiritual aconteceu com o gênero humano e o mesmo ficou destituído da glória, era preciso então uma revelação que não levasse em conta o caráter criador de Deus, mas também seu plano redentor. Até porque apesar da beleza da criação e da consciência aprovando ou acusando os atos humanos, era preciso evidenciar o amor, a justiça, a misericórdia e o plano de salvação divino. Toda a Sagrada Escritura escrita pelos profetas e apóstolos e a vinda de Jesus Cristo visava justamente a este propósito.


Referências Bibliográficas

[1] LITTLE. Paul E.  Você Pode Explicar Sua Fé?. 5 ed. São Paulo Editora Mundo Cristão, 1997.
[2] STOTT, John. Cristianismo Básico. 1 ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964. p 10,11
[3] LUTZER, Erwin. 7 Razões para confiar na Bíblia. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 1997. p 57,58