quarta-feira, 9 de julho de 2014

ESPOSA DE PASTORES SÃO REALMENTE PASTORAS?

Por Gildo Gomes

O convite ao lado é de um órgão oficial de um ministério feminino de uma conceituada igreja evangélica cearense. Esse convite é para o dia das mães no mês de maio de 2014. Nele as mulheres, esposas de pastores são chamadas de “pastoras”. Essa é uma prática tão comum no meio evangélico atual, que na medida que o tempo passa o uso do termo “pastora” em certas denominações protestantes, mesmo contrárias a ordenação pastoral feminina já não causa tanta estranheza entre os cristãos como antigamente. Geralmente na posse de um novo pastor de uma congregação evangélica, frequentemente se escuta sua esposa ser chamada de pastora. Há pastores que inclusive chegam a dizer que sua esposa é 50% de seu ministério; e outros com ar de triunfo afirmam que sua esposa é responsável por 90% de seu trabalho ministerial. Na prática isto é o que realmente temos visto acontecer. Um exemplo disso, é que as esposas dos pastores são, via de regra, a presidente do Departamento de Senhoras e a tesoureira da igreja local.  Muitas delas exercem uma influência tão forte que acabam tomando o oficio do presbitério da igreja, pois são as esposas dos pastores as primeiras a saberem e participar de decisões sobre questões importantíssimas da igreja como disciplina de membros e separações ao ministério. Ora, ao serem tratadas como pastoras na igreja ninguém poderá condená-las por agir assim. Geralmente os próprios presbíteros ou diáconos locais na ausência do pastor não tomam uma decisão sem antes consultar aquela que consideram pastora. O mais interessante é que essa prática de chamar a esposa do pastor de pastora cresceu no mesmo período em que as famílias dos ministros dominam absolutamente as igrejas ao seu bel prazer. Há em muitos ministérios uma espécie de nepotismo religioso, similar ao nepotismo político, onde o pastor e sua família comandam a igreja como se fosse sua própria propriedade. É comum hoje em dia e muito estranho os filhos, netos e genros de pastores terem chamada ministerial. Qualquer pessoa hoje que verificar a quantidade de ministros ordenados ligados por parentesco se assustará. A conclusão é que o ministério virou uma verdadeira tribo familiar. O óleo da unção desce fácil sobre a barba do filho, do irmão e cunhado do pastor. Não que alguém por ser filho ou parente de um pastor esteja desqualificado para o exercício pastoral, mas o que vemos em nossos dias é praticamente uma regra baseada no parentesco na escolha de obreiros para obra do Senhor. E é nesse contexto que as esposas dos pastores tem sido chamadas de pastoras. Apesar de muitas denominações não aprovarem a ordenação pastoral de mulheres é fato que as famílias dos líderes exercem grande domínio sobre o rebanho e então porque não chamar de pastora a esposa do pastor? Para muitas mulheres enquanto sua denominação não se posiciona oficialmente sobre a ordenação pastoral feminina, elas gozam dessa posição por vínculo matrimonial. Acredito que isso não é apenas uma questão de honrar a mulher do pastor, mas antes de tudo uma forma de preparar o terreno para o ministério pastoral feminino. Os defensores da ordenação de pastoras inclusive dirão que é uma maneira de quebrar os preconceitos para algo que não é mais possível a igreja acreditar, sem contar que a palavra machismo será sempre lembrada como um mantra para encerrar o assunto sem exigir a real interpretação dos textos bíblicos sobre a questão.
 Há atualmente um enorme debate evangélico sobre a ordenação pastoral feminina. Os grupos dividem-se em igualitaristas e diferencialistas. Os primeiros acreditam que Deus criou o homem e a mulher iguais em natureza e papéis e que qualquer diferença entre ambos inferioriza a mulher e por isso, homem e mulher podem assumir o pastorado numa congregação. Os diferencialistas por sua vez, acreditam também na igualdade entre homem e mulher, porém creem que desde a criação homem e mulher receberam papéis diferenciados tanto na família como na igreja e que por isso, é vedado a mulher o exercício do pastorado. Mas enquanto a controvérsia segue e as denominações vão tomando suas posições, existem aquelas que sem aceitar ou fingirem que rejeitam a ordenação feminina, reconhecem normalmente as esposas dos pastores como pastoras e dessa forma são vistas e tratadas pelos membros da congregação. Aludem que a esposa faz parte do ministério do pastor e que portanto a atribuição é justa. Se assim é verdade, então os filhos do casal são os pastorzinhos. Mas no caso da esposa o raciocínio funciona mais ou mesmo assim: como ambos são uma só carne então serão também um só ministério. Mas por esse mesmo raciocínio antibíblico as mulheres dos presbíteros e diáconos serão igualmente as presbíteras e diaconisas afinal são casadas com homens que assumem essas funções ministeriais. O interessante é que no caso dos apóstolos a Bíblia diz “Porventura não temos o direito de levar conosco uma crente como esposa, como também os outros apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1Co 9:5). Se essa moda existisse entre os apóstolos, suas esposas seriam as apóstolas e Pedro viajaria com a sua apostoliza. Fora da igreja a prática de conceder o título e o tratamento de uma mulher pela função do seu marido seria um desastre para a sociedade. Imagine que a esposa de um prefeito seria uma prefeita, de um juiz uma juíza, de um médico, uma médica e assim por diante. Mas porque não se faz isso? Simplesmente porque é sem sentido e ilógico. Porém no meio evangélico a lógica funciona como um domínio familiar no presente e uma antecipação de futuras consagrações de mulheres no futuro. Enquanto algumas denominações já reconhecem as mulheres como pastoras pela ordenação; outras para não chocar os crentes mais antigos, rejeitam a ordenação feminina, mas não veem nada de errado as esposas dos líderes serem pastoras via matrimônio. Ou seja, o casamento que uniu a carne também já uniu o ministério e a esposa do pastor é também uma pastora. E como no presente não há resistência dessa prática, num futuro com a aprovação do ministério pastoral feminino a mente dos membros já acostumada com as “pastoras pelo casamento”, não terão dificuldades de aceitar as “pastoras pela ordenação”. E já que alguns crentes chamam o pastor de “anjo da Igreja”, como serão mesmo chamadas as atuais esposas pastoras  ou futuras pastoras? Será a “anja do Senhor”? Acredito que não. No caso das pastoras pelo casamento os membros poderão usar o plural “anjos do Senhor”, referindo-se ao pastor e sua esposa pastora, pois “anja” suscita problemas teológicos e soa meio estranho, apesar dessa gente não ter nenhuma preocupação com teologia bíblica ou coisa estranha.
Paulo menciona que alguns apóstolos levavam uma esposa crente em suas viagens. Para que menção mais honrosa para uma esposa de pastor do que uma crente em Jesus? As esposas de pastores jamais devem ser chamadas de pastoras, mas devem ser tratadas como crentes em Jesus que fazem parte do corpo de Cristo e gozam do amor e respeito de todos. E o fato de não ser chamada de pastora não significa que não possa assumir funções na igreja e exercê-la com maestria e cooperação dos demais membros da congregação para glória do Senhor e edificação do corpo de Cristo.